Durante sua participação no Congresso de 35 anos da Constituição de Santa Catarina, realizado nesta quinta-feira (7), em Florianópolis, o ex-presidente Michel Temer falou sobre a relação entre o Brasil e os Estados Unidos, que, segundo ele, é comumente vista de forma equivocada por muitos, como uma relação pessoal entre os presidentes dos dois países.
Temer, que comandava o Brasil no primeiro mandato de Donald Trump, foi questionado sobre o impacto das eleições americanas e a relação bilateral entre os dois países. Ele afirmou que a relação entre as nações não depende das personalidades ou preferências dos presidentes em exercício, mas sim de uma conexão institucional entre os dois estados.
“A relação Brasil e Estados Unidos não muda absolutamente nada, por uma razão simples. As pessoas acreditam que a relação é de natureza pessoal, ou seja, Luiz Inácio Lula da Silva com Donald Trump, e não é. É o presidente da República Federativa do Brasil com o presidente dos Estados Unidos da América. Ou seja, é uma relação entre Estados, uma relação institucional”, destacou Temer.
Uma relação baseada em instituições e interesses comuns
De acordo com o ex-presidente, a relação entre países soberanos, como Brasil e Estados Unidos, é pautada por acordos diplomáticos, compromissos comerciais e interesses geopolíticos compartilhados, e não pelas características pessoais ou alinhamentos ideológicos dos presidentes. Ele comparou essa dinâmica com a política externa brasileira em relação a outros países da América Latina, como Argentina e Venezuela, observando que o Brasil não toma suas decisões com base nas preferências pessoais de líderes de outros países, mas sim com uma visão institucional.
Temer deu como exemplo a postura adotada pelo Brasil durante o governo de Jair Bolsonaro, que criticou fortemente o regime de Nicolás Maduro na Venezuela, impondo restrições à entrada de cidadãos venezuelanos irregulares. Apesar das divergências políticas, o Brasil manteve sua relação institucional com o governo venezuelano, mantendo canais diplomáticos e recebendo refugiados da crise humanitária no país vizinho.
“Aqui no Brasil temos muita a mania de achar que a relação é de natureza pessoal. Ganhou o presidente Trump, e o presidente Lula até já mandou mensagem para cumprimentá-lo, o que fez muito bem. Isso é uma questão de civilidade e liturgia institucional”, afirmou Temer, reforçando a ideia de que a política internacional deve ser entendida como um processo institucional e não como uma questão de simpatia ou animosidade entre líderes.
A necessidade de desmistificar a política internacional
Em sua fala, o ex-presidente Michel Temer alertou para a necessidade de desmistificar a visão de que a política internacional é movida por gostos pessoais ou animosidades entre líderes. Para ele, é fundamental entender que as relações entre países se estabelecem por meio de compromissos e interesses compartilhados, independentemente da figura que ocupa a presidência.
Temer reforçou que, por mais que o Brasil tenha diferentes posicionamentos em relação a determinados governos, como o da Venezuela, a relação institucional entre os Estados continua em vigor, com cooperação diplomática, comercial e até humanitária, como no caso do acolhimento de refugiados venezuelanos.
A visão de Temer destaca a importância de se compreender a política internacional sob uma perspectiva mais pragmática, que leva em conta os interesses nacionais e as relações diplomáticas formais, em vez de se apegar a uma narrativa de relações pessoais entre líderes.
Ex-presidente do Brasil Michel Temer – Foto: Vicente Schmitt/Agência AL/ND
Com informações do Portal ND