Uma investigação da Polícia Federal em parceria com a Controladoria-Geral da União (CGU), deflagrada em 23 de abril de 2025 na Operação Sem Desconto, revelou um esquema bilionário de fraudes envolvendo descontos indevidos na folha de pagamento de aposentados e pensionistas do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social). Estima-se que mais de 9 milhões de beneficiários tenham sido lesados em todo o país.
De acordo com o governo federal, o ressarcimento das vítimas será feito com recursos bloqueados dos investigados. A Advocacia-Geral da União (AGU) já solicitou o bloqueio de R$ 2,56 bilhões em bens e a quebra dos sigilos bancário e fiscal dos envolvidos.
12 associações investigadas pela fraude
Os relatórios obtidos pelas autoridades identificaram um núcleo composto por 12 associações envolvidas diretamente na prática dos descontos indevidos. As entidades foram enquadradas na Lei Anticorrupção (Lei n° 12.846/2013) e são alvo de Processos Administrativos de Responsabilização (PAR), instaurados pela AGU no último dia 7.
Segundo as investigações, seis dessas associações atuaram como intermediárias no pagamento de vantagens indevidas a servidores públicos, enquanto as demais funcionavam como entidades de fachada criadas unicamente para fraudar o INSS.
Conheça algumas das associações envolvidas:
AAPB – Associação dos Aposentados da Previdência Brasileira (Fortaleza/CE)
Acusada de pagar propina a agentes públicos, tem mais de 173 mil associados em 4.249 municípios. Publicações nas redes sociais ofereciam vantagens em troca de contribuição de 2% do benefício. A entidade enfrenta mais de 30 processos em diversos estados.
AAPPS Universo (Aracaju/SE)
Com 250 mil associados em mais de 4 mil cidades, é investigada por suborno a servidores públicos. Está registrada em nome de Edmilson Arcanjo Dias de Andrade.
Ambec (São Paulo/SP)
A entidade possui 500 mil associados e é investigada por intermediação de pagamentos indevidos. Funcionava sem atendimento presencial, operando por meio de serviços terceirizados.
CBPA – Confederação Brasileira dos Trabalhadores da Pesca e Aquicultura (Brasília/DF)
Apenas uma sala e uma secretária compõem a estrutura da entidade, que tem mais de 360 mil associados. Está registrada em nome de Abraão Lincoln Ferreira da Cruz.
Unaspub (Belo Horizonte/MG)
Com sede simples e estrutura semelhante à de uma residência, possui mais de 192 mil associados. Segundo a AGU, não conseguiu comprovar a existência dos supostos escritórios espalhados pelo país.
Aapen (Fortaleza/CE)
Anteriormente chamada ABSP, a associação possui mais de 455 mil associados, mas não conta com filiais. É registrada em nome de Francisca da Silva de Souza.
Asbrapi (Maceió/AL)
A entidade oferece serviços como descontos em exames e consultas, e assistência funeral. Está sendo investigada por envolvimento direto na fraude.
Associações de fachada
Cinco entidades foram classificadas como de fachada, criadas exclusivamente para realizar os descontos indevidos. Juntas, elas somam mais de R$ 830 milhões em prejuízos aos beneficiários:
- Asabasp – R$ 22,9 milhões
- APBrasil – R$ 137 milhões
- Cebap – R$ 195,8 milhões
- APDAP Prev – R$ 224,1 milhões
- CAAP – R$ 251,9 milhões
Empresas e sócios também são alvos da AGU
Além das 12 entidades, a AGU ajuizou ação contra outros 14 investigados, sendo seis empresas e oito pessoas físicas, sob acusação de intermediar pagamentos ilegais a servidores públicos ligados ao INSS. A estimativa é de que o montante pago indevidamente a esses agentes chegue a R$ 23,8 milhões.
Entre os novos alvos estão empresas apontadas como responsáveis por operar o esquema, com apoio de sócios e colaboradores que teriam contribuído com os repasses ilegais.
Servidores públicos também serão responsabilizados
A AGU informou que instaurou procedimento preparatório para responsabilizar os servidores públicos envolvidos por meio de ações de improbidade administrativa. O objetivo é garantir que os recursos desviados sejam recuperados e utilizados no ressarcimento das vítimas.
Transparência e colaboração
Algumas entidades citadas, como a AAPB, emitiram comunicados alegando colaboração com as investigações e alegando “trabalho sério e comprometido” ao longo dos anos. No entanto, a extensão do esquema, o número de beneficiários prejudicados e a dimensão dos recursos desviados colocam o caso entre as maiores fraudes já descobertas no âmbito do INSS.