Um relatório da Controladoria-Geral da União (CGU) revelou que o golpe que desviou mais de R$ 6 bilhões do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) teve como principais vítimas idosos, analfabetos digitais e pessoas que não sabiam ler ou escrever. A fraude, que ocorreu entre 2019 e 2024, envolveu entidades conveniadas ao INSS que cobravam mensalidades indevidas de aposentados e pensionistas sem autorização prévia.
De acordo com a investigação, essas entidades alegavam oferecer serviços como planos de saúde e descontos em academias, mas não tinham estrutura para cumprir o prometido. Além disso, houve falsificação de assinaturas dos beneficiários para viabilizar os descontos diretamente na folha de pagamento.
Entre abril e julho de 2024, a CGU entrevistou 1.273 beneficiários em todos os estados brasileiros. O levantamento apontou que 72,4% das vítimas não sabiam que havia descontos sendo feitos em seus benefícios. Os demais 27,6% afirmaram ter algum conhecimento, mas muitos não autorizaram ou não sabiam como cancelar os débitos.
Mesmo entre os que autorizaram, a CGU identificou que havia um entendimento limitado sobre os procedimentos de cancelamento. Segundo o relatório, essa vulnerabilidade, somada à falha nos mecanismos de controle do INSS, facilitou a atuação das entidades fraudulentas.
No dia 23 de abril de 2025, uma operação conjunta entre a Polícia Federal e a CGU desmantelou o esquema criminoso, com o cumprimento de 211 mandados de busca e apreensão em 34 cidades e seis mandados de prisão temporária. A operação resultou na apreensão de R$ 41 milhões, incluindo R$ 470 mil em dinheiro vivo, R$ 1,2 milhão em moedas estrangeiras, além de carros de luxo avaliados em R$ 34,5 milhões, joias, semijoias e obras de arte.
O escândalo levou ao afastamento e posterior demissão do então presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, servidor de carreira e atualmente filiado ao PDT. Além dele, outros cinco servidores foram afastados cautelarmente pela Justiça:
- Virgílio Antônio Ribeiro de Oliveira Filho, procurador-geral do INSS;
- Giovani Batista Fassarella Spiecker, coordenador-geral de Suporte ao Atendimento ao Cliente;
- Vanderlei Barbosa dos Santos, diretor de Benefícios e Relacionamento com o Cidadão;
- Jacimar Fonseca da Silva, coordenador-geral de Pagamentos e Benefícios;
- Philipe Roters Coutinho, agente federal.
O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, afirmou que o caso é um dos maiores esquemas de fraude contra beneficiários da Previdência Social já registrados no país. A Polícia Federal e a CGU seguem investigando os envolvidos e os desdobramentos do esquema.